sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Notícia RTP: Em 10 a 20 anos as casas inteligentes podem generalizar-se



Entrevista de Eng. José Alves (Oceano de Ideias), Eng. José Mota (Dosapac) e Eng. Carlos Oliveira (Mobicomp), que estiveram presentes no seminário Edifícios e Espaços Inteligentes’2003 no Centro Cultural de Belém (Lisboa)

Em 10 a 20 anos as casas inteligentes podem generalizar-se

Persianas que sobem e descem por comando à distância, micro-ondas activados remotamente ou sensores que detectam movimento são uma pequena parte do que se pode encontrar nas casas inteligentes... e não é preciso ser tecnólogo para viver numa.

"Uma casa inteligente é aquela que promove o máximo conforto de utilização (iluminação, climatização, estores e toldos, rega, tratamento de água da piscina, segurança) com o mínimo de dispêndio de água e energia", definiu o engenheiro José Mota à Agência Lusa.
Autor - em parceria com José Augusto Alves - do livro "Casas Inteligentes", editado em 2003 pelo Centro Atlântico, José Mota assinalou que não é preciso "fazer um curso" para aprender a lidar com uma.
"As casas inteligentes devem estar preparadas para todos os potenciais utilizadores: dos moradores às visitas, passando pelas crianças e por qualquer pessoa com diminuição permanente ou temporária de capacidade física ou mental" e uma das suas vantagens é precisamente "a capacidade de adaptação dos interruptores, painéis tácteis ou comandos à distância".
São estes recursos que permitem "programar os estores para subirem ou descerem e as luzes para acenderem ou apagarem", explicou José Augusto Alves, engenheiro especializado em computadores e sistemas digitais, à Lusa.
O mesmo sistema pode ser aplicado "à rega do jardim" e funcionar à distância, "simulando a presença humana no interior de uma casa mesmo quando ela está vazia", acrescentou José Alves, que deu exemplos ainda mais sofisticados das aplicações da domótica, ou robótica doméstica, ao lar.
"Num terreno é possível colocar receptores em todo o perímetro de modo a que, se for detectada a entrada de um intruso, se acendam luzes ou - caso exista uma ligação a sons pré-gravados - se ouça um cão a ladrar ou um tiro", o que visa dissuadir os assaltantes, referiu ainda José Alves.
E podem-se dar comandos à casa inteligente a partir de qualquer parte do mundo, "desde que se esteja num local com acesso à Internet ou se disponha de uma cobertura de rede móvel sem fios (ligação tipo 3G), que permita comunicar com o servidor instalado na casa", salientou o engenheiro.
Outra área com "imenso potencial de desenvolvimento é o home ambient intelligence", destacou por seu turno Carlos Oliveira, director-executivo da empresa Mobicomp, que faz investigação de aplicações para dispositivos móveis (telemóveis, Personal Digital Assistants, etc), embora sem intuito comercial.
"As casas em autogestão parecem fazer parte de um cenário muito futurista mas daqui a 10 ou 20 anos serão, certamente, uma realidade para muitos cidadãos, pois o acesso às tecnologias tende a massificar-se", afirmou Carlos Oliveira , revelando hipóteses que quase parecem ficção científica.
Apesar de ainda não ser recorrente nas casas inteligentes, estas podem ter "frigoríficos ou dispensas que detectam quando um produto está a acabar e elaboram logo a lista de compras", sendo previsível que também possam "detectar se um prazo de validade expirou, desde que o produto tenha RFID (identificação por frequência rádio), um chip que será o código de barras do futuro".
Carlos Oliveira revelou também à Lusa que a sofisticação já permite "que uma casa ou apenas uma assoalhada se adeqúem ao perfil da pessoa que nela entrar, colocando a luminosidade, a temperatura ambiente ou o volume de som da aparelhagem de acordo com os gostos individuais", embora o custo destas tecnologias não facilite a generalização do seu acesso.
"A tecnologia custa dinheiro, pelo que o investimento nem sempre faz sentido", assinalou José Augusto Alves, indicando que "num T1 que custou 60 ou 70 mil euros provavelmente não vale a pena investir 10 a 15 mil euros em domótica, mas numa casa com área interior superior a 400m2 pode compensar".
Ainda segundo José Alves, "em Portugal já há várias empresas a projectar casas inteligentes, mas apenas cerca de 20 o fazem com qualidade", enquanto "na Alemanha essas empresas são milhares".
A este propósito, José Mota acrescentou que é difícil conhecer a percentagem de casas inteligentes no parque habitacional português, embora seja "notório" um aumento gradual, mais acentuado "nos últimos dois anos".
O problema é que, "embora nos novos registos das habitações seja obrigatório identificar a existência de domótica, os promotores optam normalmente por o omitir, para evitarem o aumento do imposto municipal sobre os imóveis, já que esta tecnologia foi vista pelo legislador como um luxo e não como uma necessidade para se alcançar uma maior eficiência energética", sublinhou José Mota.
José Augusto Alves também não considera a domótica uma questão de luxo, tendo declarado à Lusa que "uma casa com muito `show off` não é necessariamente mais inteligente" e esse exagero pode "confundir em vez de auxiliar".
"O essencial é que a casa seja intuitiva", sublinhou, concluindo: "As pessoas que olham para a minha casa a partir de fora nem sabem que tem a tecnologia integrada. Quando muito, podem reparar que, às vezes, há um robot a cortar a relva do jardim".

Agência LUSA
2006-12-25 10:15:01